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Disco Tinto

by Éme

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1.
Digo adeus ao meu bar, aos meus amigos, ao meu par, digo adeus ao que este burro fez. No final do mês, vou deixar esta espelunca de vez, Em mais de 12 anos, meia dúzia de planos, trabalho aqui desde 2010. Adeus ó freguês, e entornei-lhe em cima um copo de três. Aqui o meu talento transformou-se em trampa. O meu dom, cá, transformou-se em maldição. Veio falar comigo no final do meu turno, até o sorriso tinha um ar soturno, pôs-me assim a mão, condescendente como só um patrão. Dores laborais, Mesmo que no corpo não doam, dores laborais, quando as sirenes ecoam, são iguais às tradicionais, destroem casais e, se algum dia te vais, não aguento mais dores laborais. Mudei cada barril, sempre alegre e servil, não fiz as contas, hão-de ser mais de mil. Amor e ardil p’ra salvar o nosso humilde covil. Mas fecha a Disco Tinto e eu não sei o que sinto, sou tipo um bêbado num labirinto. Sem emprego nem absinto, se eu disser que ‘tou só triste, minto. Ali, havia alívio pela barafunda, alívio não tratou da dor mais funda. Trabalhar das 9 às 5 e ter a vida num brinco, aos trinta ainda ser um indigente, missa de corpo presente, o meu sonho morto à minha frente. Dores laborais, Mesmo que no corpo não doam, dores laborais, quando as sirenes ecoam, são iguais às tradicionais, destroem casais e, se algum dia te vais, não aguento mais dores laborais. são iguais às tradicionais, destroem casais e, se algum dia te vais, não aguento mais dores laborais.
2.
Disco Tinto 02:47
Oh não, estou aqui outra vez e tinha dito “nunca mais me vês, nunca mais me vês.” “Perdão”, pede o bar ao freguês que pede um copo de prosecco e dizem, “cá só temos Mateus Rosé. Só temos Murganheira e não Moët, olhei bem para a carteira e disse “logo se vê.” Na Disco Tinto só paga quem quiser. Se eu não quiser, fico a dever. Na Disco Tinto Água das Pedras com limão à descrição, na canalização, P’ra quem diz que o tinto é carrascão. No chão, Os destroços de um serão em que os shots foram mais que três, muito mais que três. Então, uma só recordação, um senhor que diz que Adão se chama assim porque é o primeiro português. O quê? Conspiração que Pedro é irmão de Inês e o D. Sebastião regressa ao fim de cada mês. Na Disco Tinto só paga quem quiser. Se eu não quiser, fico a dever. Na Disco Tinto Água das Pedras com limão à descrição, na canalização, P’ra quem diz que o tinto é carrascão. Os dias que eu não via ninguém sabiam-me bem. Sexta-feira, fazes o quê? Café e T.V. e autodiagnosticar-me a ver sintomas na net. Onde é que já não vai o charme dos meus 27? Na Disco Tinto só paga quem quiser. Se eu não quiser, fico a dever. Na Disco Tinto Água das Pedras com limão à descrição, na canalização, P’ra quem diz que o tinto é carrascão.
3.
Fosco brinca na areia, a areia manda na casa, hoje ninguém me chateia, trago o grão na asa. Culpa cristã ou ateia, normalmente p’ra mim não tem fim, nem me passou pela ideia, desde o terceiro gin. Ponha na conta, eu pago no fim. Se eu não tiver, alguém paga por mim. Onde é que foi toda a gente? Até a cerveja ficou quente. Tenho o cobrador à perna e estou sozinho mas contente. O meu corpo está doente, pergunta-me: Onde é que foi toda a gente?(x2) O estranho odor do colega, a impaciência da chefe, cago no prazo de entrega, bebo CRF. Trabalho, ninguém deseja, sem isso não há milagres. Quero ser sommelier de cerveja: Super é igual a Sagres. Ponha na conta, eu pago no fim. Se eu não tiver, alguém paga por mim. Onde é que foi toda a gente? Até a cerveja ficou quente. Tenho o cobrador à perna e estou sozinho mas contente. O meu corpo está doente, pergunta-me: Onde é que foi toda a gente?(x2)
4.
Dói-me o peito e a cabeça lateja, não bebo mais nada por muito leve que seja. Tapo manchas de vinho, talvez Deus não as veja, só me visto a preceito p’ró domingo de igreja. Queria ser um monge, ver o que é mundano longe. Ter um grande vício é quase igual a ter fé, um é um tiro no escuro, o outro é um tiro no pé. Ter um grande vício é quase igual a ter fé, se o motivo é obscuro, diz-se é assim porque é. Branco maduro ao balcão escuro do café. Branco maduro, já não bebo mas aturo Hemingways abaixo uns furos, maus augúrios futuros. Diz que não é desta que eu me curo e que não vais ter o teu tal furo. Se não existe o que procuro, entrego tudo ao Branco Maduro. Ter um grande vício é quase igual a ter fé, um é um tiro no escuro, o outro é um tiro no pé. Ter um grande vício é quase igual a ter fé, se o motivo é obscuro, diz-se é assim porque é. Branco maduro ao balcão escuro do café.
5.
Bem vindo ao jazigo da estrela passé. O meu guia amigo, aqui, quase não vê, o vício antigo e ele todo NPC. Cá em baixo, o castigo é mais álcool, mais sede. Por cima há um abrigo e aqui é o degredo. Quero falar contigo e tenho um pauzinho de rede. Chama, chama, chama, chama e não atende. Chama, estás na cama, pijaminha quente. Chama acende, transcendente. E eu pequenino em frente à T.V. De bem com o destino sem “mas” nem “porquê”. Adeus, peregrino, caminha e não crê. Sem ti, ai que perigo, conchinha à mercê do vento de Vigo, ao sabor da maré. Se não vens comigo, então vim cá p’ra quê. Chama, chama, chama, chama intermitente. Chama acende a vela, moedinha dentro, apagou-se, foi do vento. Dou graças a quem por te ter conhecido? Dou graças a quem p’lo cãozinho mais querido? Há-de haver alguém a quem estar agradecido. Dou graças também p’la família e amigos e obrigado, Mãe, nada mal ter nascido. Dou graças à vida, dou graças ao caminho. Chama, chama, chama, finalmente atende, Chama é quem me ama e quem me compreende. Chama acende novamente.
6.
O Actor 04:31
Uma pequena nota na secção cultural de um jornal regional dizia que tinha morrido alguém especial. Pelos vistos, era um cota que tinha sido fundamental para a renovação do teatro em certa tarde, na cinemateca, um homem veio-nos abordar. Disse à Jules que adorava Pega Tinha-lhe sido a filha a mostrar. Noutra tarde, no Estádio, à espera do Lou, da Sophie e do Sar, veio-se sentar, cravou-me uma média, achei seca mas deixei-me estar. Dizia que tinha cantado com o Zeca, Zé Mário e Fausto, há mar, há ir e vir, e talvez não voltar. Eu disse a gozar, “o senhor mente”, e ele cantou p’ra toda a gente, e eu passei por idiota porque a música era excelente. E ele a cantar, todo contente, o momento foi comovente. Cantou à boca cheia, mesmo sem um outro dente, o Zé Lopes não mente! Eu era um rato na roda dos sítios da moda e da noite em geral, ele p’ra desconto sénior até era jovial. Eu era tipo uma anedota sobre um idiota que se acha especial, e aquele velhinho tão querido, tinha vivido tão cheio de culpa, fui à procura do sítio do funeral dele. Fui porque vi que ele vivia na rua e a filha deixou um apelo. Cheguei lá, e aquela luz branca, no Centro Ideal há uma igual, foi a luz que serviu de alavanca, e se isto não é um portal? Morrer é igual ao que fizeste na vida de bem e de mal, então deixa-te estar na luz, não penses mais no final. Que entre ser quase e nunca ter sido, o caminho é igualzinho, quando se anda tão sozinho, não se vê bem o destino, e ele a cantar, todo contente, o momento foi comovente, e eu passei por idiota, porque a música era excelente, Zé Lopes não mente.
7.
Fã nº2 02:56
Figo p’ra lá de maduro já ninguém engole, é duro ser mole. És um bocado inseguro e perdeste o controle, é duro ser mole, perdeste o controle. És o colesterol que matou o rock’n’roll, é duro ser mole. Perdeste o controle. Há quem bata e há quem bombe e há quem venha depois. Há sempre um fã nº1 para o fã nº2. Se há embate ou hecatombe, ponham-me fora, ora pois. Eu sou o fã nº1 do meu fã nº2. Do meu fã nº2 Ando a ver se me curo com funcho e mentol, é duro ser mole. Brinco já não tem furo e nem pus etanol, é duro ser mole, nem pus etanol. Quando tu é um Éme e a loja só tem small, é duro ser mole. Nem pus etanol. Há quem bata e há quem bombe e há quem venha depois. Há sempre um fã nº1 para o fã nº2. Se há embate ou hecatombe, ponham-me fora, ora pois. Eu sou o fã nº1 do meu fã nº2. Do meu fã nº2.
8.
O Filho Mais Velho do Embaixador O filho mais velho do embaixador, tal qual o pai era um estupor, o filho mais novo ainda era pior, desse eu tinha pavor. O único cinema ao pé de Alvor, só tinha um filme e era de terror, fui com os miúdos e com o diplomata, nata da nata da nata, nata da nata da nata. Dá-me pesadelos, eriça-me os pêlos, pensar no pai deles, pensar no pai deles. O filme nem era assustador, era um misto de sci-fi com um bocado de humor, tinha mais medo da cruz de prata no peito do aristocrata, no peito do aristocrata, Ou da minha camisola azul barata, com manchas de molho do Conchanata, em contraste com a atada à omoplata, quando disse: “Pai, não me bata, Pai, por favor não me bata.” Dá-me pesadelos, eriça-me os pêlos, pensar no pai deles, pensar no pai deles. Quando acordei na discoteca, olhei para a frente e ele estava lá, cara igualzinha, já careca: o filho do papá.
9.
Ratitos 02:40
Vou voltar ao lugar em que deixei a carteira e o caderno, ontem à noite. Vinha cá dar um gig, mas ninguém veio, havia bar aberto e desfrutei-o. No tal bar, um rapaz, ar de opus-dei, veio a correr para mim com um ar afoito. Pergountou: “Perdeste algo?”, e eu disse: “Oi? Carteira e caderno e mais não sei.” E enquanto dois poetas malditos discutem cada estrofe ao balcão, por baixo há uns quantos ratitos que apanham o que eles deitam ao chão. Por cima há um grupo de eruditos, tipo com um ar de erudição. Vaidosos, não por serem bonitos, mas por poderem pertencer à multidão — Conhecia-os de algures, só não sei se é das tours ou dos bares em que andei, sei é que tal qual o mestre ou o sensei, parece que ao falar é só para nós. Um, diz que ouvi lá do fundo a minha voz. Dois, que do que ouviu a tristeza era atroz. Três, que o falhado mais forte e feroz é o que nem falha, desiste antes. E enquanto dois poetas malditos discutem cada estrofe ao balcão, por baixo há uns quantos ratitos que apanham o que eles deitam ao chão. Por cima há um grupo de eruditos, tipo com um ar de erudição. Vaidosos, não por serem bonitos, mas por poderem pertencer à multidão E lembrei-me de onde é que sabia da cara do tipo com ar opus dei. Era o filho de amigos de férias com a minha mãe. Ai, acho que ainda era aparentado do Rei, na cave do bar, o Rei é um Zé Ninguém. Corrigiu-me, sei lá, para aí 100 vezes, antes de passar a explicar: viu a minha carteira, deu ao gajo do bar. E enquanto dois poetas malditos discutem cada estrofe ao balcão, por baixo há uns quantos ratitos que apanham o que eles deitam ao chão. Refrão E enquanto dois poetas malditos discutem cada estrofe ao balcão, por baixo há uns quantos ratitos que apanham o que eles deitam ao chão.
10.
Purgatório 03:09
Purgatório lá em cima, daqui vê-se o interior, tem ambientador de clima, chá e águas com sabor. Quando a noite se aproxima, sobe um fumo e um fedor. Chapa ganha aqui em cima, gasto em baixo igual valor. Tenho o caderno no inferno, tenho a carteira numa caveira, tenho escritório no Purgatório, no andar de cima do bar. Um senhor de barba branca tomava conta do balcão, quis-me vir mostrar a planta que era a sua criação. Como eu queria era a carteira e o caderno, disse “não”, então, de uma prateleira, atrás do balcão, sacou de um bastão. Tenho o caderno no inferno, tenho a carteira numa caveira, tenho escritório no Purgatório, no andar de cima do bar. O bastão era um ponteiro e havia um mapa lá atrás, Hades era o bar inteiro e aquele barista era Satanás.

about

Lançamento no dia 15 de Março.

Datas de apresentação nos dias 13 de Abril na Sala Lisa, em Lisboa, e 19 de Abril no Cinema Passos Manuel, no Porto.

Elaborado a partir das castas Éme a solo e Éme e Moxila, o "Disco Tinto" nasce da vinha caseira plantada nos socalcos de S. Vicente, em Lisboa.

Depois de colhido manualmente, estagiou na herdade Cafetra, em barricas de Lourenço Crespo e Miguel Abras, com ligeira correcção de mosto por Francisca Aires Mateus.

Envelhecido nas caves de João Oliveira, onde vieram ao de cima as suas notas de chocolate e frutos vermelhos, este é um vinho encorpado, fresco e elegante, que apresenta final de boca longo e persistente.

Engarrafado com rolha de Filipe Paes, acompanha bem queijos secos e comida de tacho.

Não contém sulfitos.

credits

released March 15, 2024

Gravado e produzido pelo Éme, entre casa, Monsul e o estúdio da Cafetra.

Co-produzido pela Moxila.

Todas as letras e canções foram escritas pelo Éme, excepto as faixas 2, 7 e 5, escritas pelo Éme e pela Moxila.

O Lourenço Crespo tocou piano nas faixas 2 e 6.

O Miguel Abras tocou baixo na faixa 6.

A Francisca Aires Mateus tocou violino na faixa 5.

A Moxila cantou nas faixas 1, 2, 3, 5, 6, 7, 8 e 10, tocou melódica e órgão na faixa 2, cavaquinho na faixa 5 e flauta nas faixas 3, 4 e 7.

O resto foi o Éme a tocar.

O João Oliveira misturou o disco e o Filipe Paes masterizou-o.

A fotografia da capa é do Francisco Correia.

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Cafetra Records is a portuguese record label based in Lisbon and founded in 2008 by a group of friends who wanted to make and produce music together. Since 2011 and until today, it has released several records, in as many different formats as in various genres, always sharing a common identity. ... more

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